sábado, 3 de dezembro de 2011

Garoto do Balanço


E me sentia só, sempre com os mesmos movimentos repetitivos.
E me sentia preso, sempre com os mesmos risos sem importância.
O pequeno garotinho franzino sentado no balanço do jardim, esperando a companhia de alguém que nunca veio.
E me sentia sem rosto, sempre imaginando uma vida fictícia cheia de magia e esperança
E me sentia estranho, sempre falando sozinho enterrado em minha própria cabeça
O pequeno garotinho que queria ter asas para voar o mais alto que pudesse, queria ser especial.

E me sentia feio, sempre com a mesma expressão catastrófica.
E me sentia frio, sempre com a mesma saudade de uma vida que nunca vivi.
O pequeno garotinho que viu o sangue sair dos pulsos até não sentir mais aquela absurda dor que não tinha nome.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Vida Vadia


Andávamos os dois, sujos e fedendo a todos os tipos de bebidas que se pode imaginar. Ela descalça com os sapatos vermelhos nas mãos, os “red shoes” como ela mesma costuma dizer. Cambaleava, sobre a rua esburacada, mal iluminada, e sorria sempre, quero dizer gargalhava freneticamente o que deixava evidente os resquícios de pó que teimavam em resistir no seu belo nariz afilado. Não entendia o porquê das gargalhadas e isso começou a me irritar. Ela usava saia de escocês com um grande cinto com uma grande e brilhante caveira de metal. O rosto sujo de maquiagem borrada, os cabelos desalinhados pintados de vermelho, nos braços algumas manchas de corte, nos pulsos, na certa já fez o velho ritual... A blusa rasgada deixava escapar o seio esquerdo, que se projetava e pulava com os seus freqüentes tropeços.  De repente me enfureci com aquela figura decrépita, uma pobre vadia louca, senti vontade de estapeá-la, jogá-la ao chão, mas sabia que não seria possível infelizmente eu já conheço a sua maldita força. Não a repúdio essa é a tal da VIDA uma cadela de rua! Acho melhor me juntar a ela e como dizia a sabia Hilda Hilst: a vida é liquida!