Andávamos os dois, sujos e fedendo a todos os tipos de
bebidas que se pode imaginar. Ela descalça com os sapatos vermelhos nas mãos,
os “red shoes” como ela mesma costuma dizer. Cambaleava, sobre a rua esburacada,
mal iluminada, e sorria sempre, quero dizer gargalhava freneticamente o que
deixava evidente os resquícios de pó que teimavam em resistir no seu belo nariz
afilado. Não entendia o porquê das gargalhadas e isso começou a me irritar. Ela
usava saia de escocês com um grande cinto com uma grande e brilhante caveira de
metal. O rosto sujo de maquiagem borrada, os cabelos desalinhados pintados de
vermelho, nos braços algumas manchas de corte, nos pulsos, na certa já fez o
velho ritual... A blusa rasgada deixava escapar o seio esquerdo, que se
projetava e pulava com os seus freqüentes tropeços. De repente me enfureci com aquela figura decrépita,
uma pobre vadia louca, senti vontade de estapeá-la, jogá-la ao chão, mas sabia
que não seria possível infelizmente eu já conheço a sua maldita força. Não a repúdio
essa é a tal da VIDA uma cadela de rua! Acho melhor me juntar a ela e como
dizia a sabia Hilda Hilst: a vida é liquida!
a vida é liquida!
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